domingo, 11 de maio de 2008

Água com açúcar que vale a pena

Às vezes o cinema (principalmente os filmes que abordam relacionamentos e superação) é marginalizado. Agrada a grande massa, disposta a consumir qualquer coisa que traga-lhe intuiçoes básicas da natureza humana (felicidade, luta, conflitos, happy end, além dos já citados acima), mas é massacrado pela "crítica". Porém, alguns exemplares da indústria cinematográfica, apesar de ter nuances (ou até mesmo o ser por completo mesmo) de superficialidade, no que tange à subjetividade humana (como alguns dos aspectos já citados), possuem um poder de persuassão e comoção que vão além das críticas, da objetividade e da racionalidade. Dois exemplos deste tipo de filme são o recentemente lançado em DVD, Coisas Que Perdemos Pelo Caminho (Things We Lost In The Fire) e O Homem Bicentenário (Bicentennial Man), lançado originalmente em 1999.

O primeiro mostra o drama de uma mulher (Halle Barry) e seus dois filhos coma perda do pai (David Duchovny), que fora assassinado, e as relações entre esta família com Jerry (Benício Del Toro), melhor amigo de Duchovny, que é dependente químico. Estes quatro personagens irão traçar um com o outro uma inter-relação norteada de subjetividade (termo já citado acima), onde a busca pela superação é o principal foco. A mãe, em busca de respostas para o vazio no qual se encontra. As crianças projetam em Jerry o próprio pai (o personagem surge como um substituto para o lugar vazio) e, conseqüentemente, Jerry insere-se no contexto, buscando a cura para seu prórpio mal (o vício em drogas).

Existem diversos filmes que retratam temas e histórias semelhantes, que pretendem fazer com que o espectador sinta-se "na trama" e emocione-se com ela. No entanto, esse filme alarga este primsa e, além de causar tais sensações (tão humanas, por sinal), promove-as de forma a abraçar uma causa, a de extrair do espectador reflexões para com as relações familiares, no que tange as fatídicas perdas pelas quais todas as pessoas passam e, além disso, que, sendo completamente intrínsecas ao ser-humano (não ao conjunto, mas a cada um), é recepcionada de forma completamente diferente por cada receptador, porém emitindo a mesma mensagem. Confuso não? A subjetividade humana é confusa e, quando o tema tratado é a perde de um ente querido ou a perda de si próprio, tudo fica mais confuso ainda.

Um panorama sobre a vida e a convivência com a morte que não usa (e abusa) da apelação.

O Homem Bicentenário tem uma trama mais leve. Concebido como uma ficção-científica familiar, a história de um robô dotado de personalidade e que deseja, de certa forma, ter sentimentos e ser reconhecido como "homem" é, apesar de piegas, tocante. Não tanto pela busca do robô (vivido pelo carismático Robbin Williams), mas sim pelos anseios e dúvidas das pessoas que convivem com ele. Os questionamentos delas, tanto quanto os dele, refletem as eternas dúvidas das quais o próprio homem carrega, suas incertezas, seus anseios, suas peculiaridades, a incerteza do pós-vir, etc. Questionamentos que angustiam o ser-humano desde sua concepção.

Além desse prisma, digamos, filosófico, a relação entre o diferente é mostrado no filme. Aceitaçao e repulsa, respeito, amor-próprio, mudança de atitudes, divergências; querer ser algo que não o é. Existe algo mais humano que isso? A busca pelo que não se tem ou pelo que não pode se ter?

Estes são dois filmes bastante diferentes entre si e, com certeza, detém bem mais qualidades do que as extraídas neste curto ensaio. O que quero deixar claro é que, apesar de apresentarem características similares, como o título do meu post indica, filmes "água com açúcar", eles não possuíem soluções fáceis e enredo pífio. Não são longas perfeitos, muito menos imprescindíveis para o hall do cinema. Contudo, possuim qualidades próprias que os afastam do termo depreciativo falado e, ao contrário de outros filmes que se encaixariam com perfeição nele, estes trazem consigo uma marca de subjetividade que é aliada naturalmente ao do próprio homem (ou seja, não exige que o espectador se emocione, ele o faz de forma natural).

Sendo assim, quem tiver interesse num filme leve (muito mais o segundo) e que entretém com naturalidade, sem apelações, estes dois exemplares citados são uma boa pedida.

Preparem os lenços...

Coisas Que Perdemos Pelo Caminho
Trailer

Críticas:
Omelete
Cineclick

O Homem Bicentenário
Trailer

Críticas:
DVD Show
Adoro Cinema (Opiniões de internautas do site).

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