domingo, 24 de fevereiro de 2008

Racismo.


Hoje pela madrugada me deparei com um tema polêmico ao assistir ao programa da Rede Globo Altas Horas: Racismo.Tema este exposto quase no encerramento do programa, por um dos jovens da platéia, sob o prisma das cotas para negros em instituições públicas (faculdades, principalmente) e explanado em desabafo pelo músico e escritor MV Bill (um dos convidados do programa, que estava promovendo o lançamento do livro "Mulheres do Tráfico", espécie de complemento à sua obra anterior, "Falcão - Meninos do Tráfico"), que levanta em seu pequeno discurso alguns aspectos importantes com os quais eu concordo (apesar de acreditar que a dívida do todos nós para com a raça negra não será resolvida com este ilusório sistema de cotas estabelecido pelo Governo Federal em escolas e faculdades públicas, existem outras opçoes) , porém dois deles me chamaram bastante a atenção (apesar de não ser de hoje que se tem conhecimento de suas existências): o racismo velado do brasileiro (inclusive apontado na opinião de MV Bill como o pior tipo de racismo existente) e a exclusão do negro à partir da TV (quantas pessoas de cor estão presentes da platéia é um dos levantamentos do rapper). É sobre esses dois tópicos que quero fazer breve comentário e expressar a minha opnião.

O Brasil é conhecido pela sua alegria, receptividade e até por sua generosidade. Porém, apesar da alma alegre e acolhedora (principalmente para com estrangeiros, defeito ou qualidade?) esconde-se nele uma marca profunda: o racismo. Num país em que a missigenação é 'total', onde praticamente não existe uma raça totalmente pura, sendo esta uma mistura de indígenas, negros, asiáticos, europeus, etc., fica complicado admitir que vivemos numa sociedade preconceituosa. No entanto, é o que acontece. Com um menor ou maior grau , acredito que nós somos de certa forma racistas. Porém ele não ocorre de maneira explícita, não o mostramos de forma externa ou em opiniões abertas, mas sim nos recônditos mais íntimos no nosso ser, às vezes libertos em comentários infelizes mal colocados (com a sempre conveniente "foi sem querer" ou "não foi minha intenção, desculpe-me" para acompanhar). É um assunto complicado de se tratar, mas que deve ser refletido por todos nós. Talvez não tenhamos esse sentimento de forma negativa, afim de atrapalhar ou impedir o desenvolvimento do próximo, mas não há dúvida de carregamos este mal conosco. A pergunta seria: como trabalhá-lo de forma clara? Pois não dá pra se esconder por trás de um véu transparente, somos quem somos e temos que olhar para nós mesmos e admitirmos nossas falhas. Mas o como fazê-lo ainda fica em aberto!

Um outro aspecto importante apontado por MV Bill foi o da exclusão do negro à partir dospróprios veículos de televisão. Analisando a platéia do programa Altas Horas, por exemplo, vê-se claramente que 95% dos componentes desta era composto por pessoas de cor branca (e de ótima aparência, é válido frisar). Seria isso escolha do canal de TV para abrilhantar melhor seu programa? Seriam estas as únicas pessoas disponíveis de todas as instituições convidadas a participar do programa? Várias questões podem ser levantadas, mas a mais simples de todas de ser respondidade é esta: isso seria proposital ou não? Na minha opinião, com certeza sim. Vivemos numa sociedade em que certos paradigmas não podem ser quebrados completamente. Um deles é a nossa visão do belo. Nosso padrão de beleza é completamente europeu (pele e olhos claros). Isso não é especulação, mas sim verdade. Fomos concebidos para acreditar e procurar por este tipo de formatação. Tudo isso é parte de um processo que não começou hoje, porém com certeza estamos vivenciando o seu auge. Por fim, não há como não como culpar a TV pela massificação desta idéia a partir do momento em que ela injeta isso em todos nós de forma cínica e concentrada, porém ela não é a única, nem mesmo a principal vilã neste processo. Nós, a partir de nosso sistema de valores e cultura somos nossos próprios algozes. Enquanto não abrimos os olhos para estes pequenos detalhes de nosso íntimo e deixarmos um pouco este egoísmo e comodismo de lado, esta visão perturbadora de que o branco é belo e o negro nem tanto não será extinta ou até mesmo atenuada nunca. Nem mesmo a desigualdade social, nem a violência ou até mesmo a corrupção e a acomodação do povo (rico ou pobre, branco ou negro, ninguém escapa desta fatídica característica que é intrínseca ao brasileiro) nada mudará.

Téo Santos.

Obs.: Os convidados do programa Altas Horas foram: o cantor Zeca Pagodinho, o artista circense do Cirque du Soleil Marcos Casuo e o comentarista esportivo Arnaldo Cézar Coelho, além de MV Bill.

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